(gentileza de Amélia Pais) É mais que certo: não sinto a tua falta. Fiquei a tarde toda a arrumar os teus papéis, a reler as cinco cartas que me foste endereçando na semana que perdemos: tu no Alentejo, eu debaixo de água. Fui depois regar as rosas que deixaste no quintal. Sempre só e sem carpir o meu estado (porque não me fazes falta), pus o disco da Chavela que me deste no Natal e comecei a preparar o teu prato preferido. Cozinhar fez-me perder o apetite; por isso abri uma garrafa de maduro e não me custa confessar-te que não sinto a tua falta. Por volta das dez horas, obriguei-me a recusar dois convites pra sair (aleguei androfobia) e estou neste momento a recortar a tua imagem (não me fazes falta) nas fotos que possuo de nós dois, de maneira a castigar com o cesto dos papéis a inábil idiota que deixou que tu te fosses. José Miguel Silva