Teoria particular (mas nem tanto) do poema
IV
a poesia: o rosto na água;
o poema, sua inconstante
aparência, forma mutante,
em recorrência, minúsculas
mudanças em contínua
ação
que se o poema se esgota,
da poesia abandonado,
torna-se somente corpus,
de pesquisa e enunciados,
em autópsia textual
que lhe decreta o sentido,
em seu mais "último grau",
de seus versos dissecados
oh, amém, poema finado
mas não há a poesia finita,
mas corrente, em espiral, sem termo
o poema é o instante,
dessa corrente em passagem
re-fulminante,
diante dos olhos atônitos
do poeta, às vezes surpreso,
em agônico gesto
o poema re-preso no papel,
em tinta enformado,
sob tratos cosméticos, convencionados,
esconde sua verdade;
o poema é mais que o brilho de letras
para olhos desavisados,
e, como não há parto asséptico,
assim nasce, corpo de palavras,
entre suor e risos e gases e lágrimas
sempre o poema-sendo-ando-indo,
em gerundivo estando, em contínuo...
Aleilton Fonseca
Publicado em 7 de Dezembro de 2007