E são coisas vivas as palavras e vibram da alegria dó corpo que as gritou têm mesmo o seu perfume, o gosto da carne que nunca se entrega realmente nem na cama senão a si mesma à sua própria vertigem ou assim falando ou rindo no ambiente familiar enquanto como um rato tu podes ouvir e ver de teu buraco como essas vozes batem nas paredes do pátio vazio na armação de ferro onde seca uma parreira entre arames de tarde numa pequena cidade latino-americana. E nelas há uma iluminação mortal que é da boca em qualquer tempo mas que ali na nossa casa entre móveis baratos e nenhuma dignidade especial minava a própria existência. Ríamos, é certo, em torno da mesa de aniversário coberta de pastilhas de hortelã enroladas em papel de seda colorido, ríamos, sim, mas era como se nenhum afeto valesse como se não tivesse sentido rir numa cidade tão pequena. Ferreira Gullar