Olhou para o espelho Com as lâmpadas acesas E sentiu que perdera o desejo antigo De ver claro através de si mesma. Que diferença fazia, afinal, Saber quem era? Ou quem não era? Também já não lhe interessava saber Se era o seu espírito que agia sobre seu corpo, Ou o contrário, Como chegara a temer. Afastou-se do espelho E seu olhar encontrou O olhar do homem sorridente, Deitado em sua cama. Brotou em seu coração uma clareza Quente e doce, Como açúcar queimado. Compreendeu que a força de uma alma Está nos momentos de ventura Que se vive, Como o brilho de aceitação No olhar de quem se ama. Luiz Bello