Açúcar queimado
Olhou para o espelho
Com as lâmpadas acesas
E sentiu que perdera o desejo antigo
De ver claro através de si mesma.
Que diferença fazia, afinal,
Saber quem era?
Ou quem não era?
Também já não lhe interessava saber
Se era o seu espírito que agia sobre seu corpo,
Ou o contrário,
Como chegara a temer.
Afastou-se do espelho
E seu olhar encontrou
O olhar do homem sorridente,
Deitado em sua cama.
Brotou em seu coração uma clareza
Quente e doce,
Como açúcar queimado.
Compreendeu que a força de uma alma
Está nos momentos de ventura
Que se vive,
Como o brilho de aceitação
No olhar de quem se ama.
Luiz Bello
Publicado em 16 de Janeiro de 2008