a Annibal Augusto Gama Subia os degraus da escada sem ver o que estava à frente Subia falando sozinho sem ver que ia acompanhado Subia grudado à parede por ver a infinita altura Subia poeticamente homem sem ver o escarro no asfalto Ao fim desta escadaria agarrado ao corrimão seu lento olho arredondou-se Mirante aos olhos abertos a Vida entre céu e mar Versos estrondeando telas telas embuçando versos Toda parte cavaletes todo lado papéis penas Mal contida a harmonia razia de poetas e pintores Pincéis na mão contra os versos fios de versos contra as tintas No alto da filáucia, a máquina do mundo há muito o esperava Mesa posta só para ele pães vinhos sonhos quimeras Banquete aos olhos oferto toda a vida a descoberto Que me adianta ver além do horto, se este cisco no olho? E vazando incredulidade à Tela e ao Texto imposto a vista fez-se em negativas Muros no Alto de Pinheiros Bela Vista e saturados olhos sobre o fim do mundo Não sou o primeiro nem o último a negar-se a ver o Todo? Ao retirar do olho o cisco voejaram letras borrões Pergaminhos quase afônicos pinturas precipitando-se toda paisagem pela escada paredes e altura abaixo Marco Aqueiva, do livro inédito Passagens em Paisagem Obrigatória.