Remembrança
Falo de ti
sob os ásperos semáforos
da rua que quase enlouqueceu.
E rememoro tuas pernas e teus braços
e ponho a mão onde puseste o passo
eco da antiga claridade que era assim.
E abrindo a tampa do oblíquo alçapão,
sob todos os cílios, baixo as pálpebras
acossada por centenas de pássaros
cheirando a ervas ruminadas
na boca trêmula da dupla lua.
Eu transeunte, embora,
de uma outra,
nesta rua louca, perdida, impregnada,
dobro a esquina onde uma rapariga se esfuma
guarida alhures, lá, pelas bandas do mar.
Então, rouca, choro e saúdo uma nova lua
clara, tão clara, tão rara!
Onde se avivam rastros de mim.
Inez Figueredo
Publicado em 10 de Janeiro de 2008