As gaivotas hoje não me largam as janelas, apostadas em voos de fazer inveja a quem não gosta de passar demasiado tempo de pés colados à terra sem desafiar a gravidade. O cinzento desceu à rua e não falta onde apurar que vão ser dias e mais dias assim. É inverno, constatam os que ainda se lembram dessa bizarria das quatro supostas estações, uma divisão do tempo que existia antes de ser apenas música de espera, ultraje ao pobre Vivaldi tornado mais pop do que a Britney quando era viva, coitada. Mas é mesmo verdade: o vento de Oeste ressoa nas frestas, as plantas que se sentiam amimadas pelo sol encolhem-se, incomodadas com a mudança. Daqui a nada, as vidraças vão ficar molhadas e as luzes vão fazer falta, a compensar o tom baço que tudo invade. Agarremos o dia, mesmo assim.