Poucas foram as noites de luar de que gostei. O a-bê-cê dos astros que se soletra Tal como o traz o penar do dia que se fina, Dele se tirando novos sentidos e novas esperanças, mais claramente pode ler-se. Agora que aqui estou desocupado a meditar, poucas luas me ficaram na memória; As ilhas, a dorida cor da Virgem, o lento declinar Do luar nas cidades do norte, que por vezes lança Nas ruas agitadas, nos rios, nos membros dos homens, Um pesado torpor. No entanto, ontem à noite, neste nosso último cais Onde aguardamos que amanheça a hora do regresso Como uma antiga dívida, uma moeda que ficasse durante anos No cofre dum avarento, e por fim Chegasse o momento de pagar e se ouvissem Os cobres a tilintar na mesa, Nesta aldeia tirrena, por detrás do mar de Salerno Por detrás dos portos do regresso, no fim Duma borrasca de Outono, a Lua furou as nuvens E as casas na encosta da outra margem fizeram-se esmalte. Silêncios que a lua ama. Giórgos Seferis, tradução Manuel Resende