Última Estação II
Também isto é um rosário de pensamentos, um modo
De começarmos a falar das coisas que se confessam
Dificilmente, quando já não se aguenta mais, a um amigo
Que se escapou às ocultas e traz
Novas das casas e dos companheiros,
E nos apressamos a abrir-lhe o coração,
Não vá o exílio alcançá-lo e mudá-lo.
Viemos das Arábias, do Egipto, da Palestina, da Síria;
O estado de Comagena, que se apagou como uma pequena lanterna
Muitas vezes volta ao nosso espírito,
E as grandes cidades que viveram milhares de anos,
Delas só restando pastagens de búfalos,
Campos de cana-de-açúcar e de milho.
Viemos da areia do deserto, do mar de Proteu,
Almas maculadas de públicos pecados,
Cada um com seu cargo, como o pássaro na gaiola.
O Outono chuvoso nesta fossa
Inflama a ferida de cada um de nós
Ou, por outras palavras talvez, o destino fatal
Ou simplesmente os maus hábitos, a fraude e o embuste,
Ou ainda a cobiça do sangue dos outros.
Facilmente se tritura o homem na guerra
O homem é frágil, é um molhe de ervas,
Lábios e dedos que desejam branco peito,
Olhos semi-cerrados no esplendor do dia
E pernas que correriam, mesmo tão cansadas,
Ao mais pequeno assobio do lucro.
Giórgos Seferis, tradução Manuel Resende
Publicado em 6 de Fevereiro de 2008