estava nua, só um colar lhe dava horizontes de incêndio sobre o peito, a transmutar, num halo insatisfeito, a rosa de rubis em quente lava. estava nua e branca num estreito lençol que o fim do sono desdobrava e a noite era mais livre e a lua escrava e o mais breve pretérito imperfeito só o tempo verbal lhe fugiria, no alongar dos gestos e requebros, junto do espelho quando as aves vão. toda a nudez, toda a nudez, toda a melancolia a dor no mundo, a deslembrança, a febre, os olhos rasos de água e solidão Vasco Graça Moura