Da memória intacta
Esquecerei primeiro a tua infância
tal como a tenteariam os meus dedos
nos teus dedos febris (depois da seda
dos teus dedos nos dedos da manhã)
e em cada rio o rio que se alevanta
da solidão da terra à tua estrela
desmedindo em silêncio o seu segredo
na solidão do amor andante
Esquecerei a casa o nome e a data
(ou que a morte se vai se é ida a vida)
para esquecer por fim que me esqueci
na noite que partindo para chorar-te
(de tão sem fundo intacta) me deixavas
quando o sol se apagava atrás de ti
Miguel Serras Pereira
Publicado em 31 de Março de 2008