Em ti, o poema, o amplo tecido de água ou a forma do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada do desejo, a sua extensão e principias a entregar os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas. Apagaram-se junto aos olhos as praias, as árvores que se ergueram um dia sobre as estradas romanas, o vestígio dos últimos peregrinos, aves nuas que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito. Uma voz, no silêncio calmo das águas, esquece a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca. Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus no interior de novos frutos e, abandonado, fico junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema. Fernando Guimarães