Dentro de um secular sossego nós somos a escultura de amanhã (trilhos de formiga descem no cabelo patinado de pó o coração) Tu e eu só estátuas de amanhã Não temos na mão a flor um livro uma espingarda uma cadeira gasta onde morrer E sem o monstro gótico apunhalado aos pés (Todos os sonhos são de pedra ou bronze não os meus de palha ou de papel) Tu e eu baixo-relevo vendidos tocados expostos em vida perseguidos pelos milionários e pelos mortos talvez que invadiram já o pedestal das estátuas Tu e eu elípticos de sexo ontem gritada no teu peito hoje secreto no meu ventre deserdados da sombra já sem gesto escultura de amanhã Luiza Neto Jorge