Não hei-de conseguir falar contigo, é sempre difícil. Uma imagem cintila de repente e lá estou eu nesse baile de máscaras - revi-o mais de dez vezes! Foi tão bom ficar preso a nenhumas esperanças, sentir o vento muito frio. Percorri os desertos, o inverno era a estação preferida e sobretudo a noite. Viajava entre corpos e alma, esse mundo parecia não ter fim; o seu limite era como um segredo, um olhar desafiando a morte enquanto esperava por novas ilusões. Um telefonema é fácil de fazer, podemos encontrar-nos, conversar, fingir que existe o amor ou qualquer outra invisível certeza, mas não há lugar algum para fugir-me ainda, ninguém nas ruas cada vez mais longas, e mal vislumbro sob o azul da névoa os fragmentos do meu coração. Fernando Pinto do Amaral