Fragmentos do passado
Não hei-de conseguir falar contigo, é sempre
difícil. Uma imagem
cintila de repente e lá estou eu
nesse baile de máscaras - revi-o
mais de dez vezes! Foi tão bom
ficar preso a nenhumas esperanças, sentir
o vento muito frio.
Percorri os desertos, o inverno
era a estação preferida e sobretudo
a noite. Viajava
entre corpos e alma, esse mundo
parecia não ter fim; o seu limite
era como um segredo, um olhar
desafiando a morte enquanto esperava
por novas ilusões.
Um telefonema é fácil de fazer,
podemos encontrar-nos, conversar,
fingir que existe o amor ou qualquer outra
invisível certeza, mas não há
lugar algum para fugir-me ainda,
ninguém nas ruas cada vez mais longas,
e mal vislumbro sob o azul da névoa
os fragmentos do meu coração.
Fernando Pinto do Amaral
Publicado em 25 de Março de 2008