A verdade é filha do tempo. Aulo Gélio, in noites Áticas É, na verdade, um dia extraordinário, no sentido de marcante, diferente. Simbólico. Claro que os desenhos que permitem o padrão deste dia começaram a ser traçados há largos meses, em algumas dimensões há mais tempo ainda, graças aos deuses que se apiedaram de tantas horas vãs. Tempo de balanço, sempre interior, incomunicável. Ainda assim, dois terços de uma vida média deram para isto: memórias ricas de afectos, momentos de realização, objectivos cumpridos, algumas dores, desalentos e passos perdidos, até vislumbrar o começo da sabedoria. A alegria máxima dos filhos chegados à maioridade com rumo, esperanças, metas a atingir. O consolo da presença daqueles que nos geraram, e a construção diária de uma partilha intensa, cúmplice e inteira a que se convencionou chamar amor. As décadas, de tão cheias, voaram, levando a inconsistência de tudo o que não poderia nunca transformar-se em solidez. Sobrou o que conta, enfim.