Imortalidades
Há algo de imortal numa promessa,
dizia Borges num poema seu.
Lembra-me só, sem que eu sequer te peça,
esse esquecido verso quem mo deu.
Podia ser quem mais desconhecesse
um jogo que entre versos e temores
da nossa própria vida se tecesse
em doída suspeita de fulgores
Perfeitos os amores sem piedade;
abolidas certezas; e a paixão
podia ser tão só a claridade
da noite a agonizar à nossa mão.
Ninguém estende a mão a um poema
que a memória não saiba transformar:
neste, corpos e versos são o tema
dos jogos que aprendemos a jogar.
Como um amor que dói sem ter nascido,
num verso cabe a vida e o seu olvido.
Luís Filipe de Castro Mendes
Publicado em 13 de Março de 2008