O amor é camisa que se carrega sobre o esqueleto sem saber que por dentro está cerzido o Tempo. E passa o Tempo por dentro das pedras não decifradas dos mapas portugueses do oceano que já foi mar e antes rio do assassinato do fundista solitário. E passa o Tempo por dentro de Publio Virgilio Marão sonhando Enéias de Ragusa no Adriático dos navegantes de Urano e Netuno de certos tons de abril que será sempre e estranhamente abril. E passa o Tempo por dentro do bisavô Affonso Donato visitado por um anjo no dia da sua morte. E passa o Tempo por dentro da Quinta Sinfonia de Mahler das janelas de Veneza dos 150 Salmos de Israel e daquilo que se amou de verdade. Passa o Tempo por dentro desta página como passa o incenso por dentro do labirinto de um relógio chinês. Neide Archanjo