sê devastador e violento como a tempestade ao abrir as gavetas, ao depor sobre a mesa nenhuma razão que outros conheçam. alimenta-te de mim e de ti, guarda as fotografias em paredes brancas onde nenhuma ave se demore, abre-me as feridas, as mais recentes e as antigas. sê brando e lento como as manhãs de dezembro ao desfazerem-se em neve, esquece os recados, os pequenos delitos escondidos em segredo. os telhados abrigam-nos da maledicência, do azar, daquilo que o tempo gasta em passar sobre nós. leva-me assim, como um acidente entre os dedos. sê luminoso e intenso, ó meu amor, retrato escondido, colecciona os declives, ensina-me essa geografia, sê inocente e puro, mesmo que a noite interrompa a vida e a nossa pele estremeça. deixa que bebamos apenas se o prazer magoar onde nasce a sede, fala-me de mim e de ti, se nos sentarmos nas dunas. Francisco José Viegas