Eu não gostava de ser rei. Os reis praticamente não têm vida própria. Têm sempre que ter juízo, têm sempre que prestar atenção. E não se pode estar sempre com atenção. Sempre a cumprimentar. Máquina de cumprimentos. Máquina de apertar mãos. Não pode calçar quaisquer sapatos. Ele bem queria os azuis. Mas não pode. Porque tem de calçar os castanhos. Houve alguém que inventou isto. Tomam conta do rei. E também ele toma conta de si. Para não sujar a camisa. Tem logo que vestir outra. Da reserva. Camisas de serviço. Tem à mão a reserva. Nem uma pedrinha pode ter na sopa. No entanto, uma vez encontrou uma no puré de legumes. O cozinheiro ficou tramado. Não o tramem. No fundo, o rei sentiu-se feliz por encontrar uma pedra no puré de legumes. Não tinha ideia de encontrar fosse o que fosse no puré de legumes. E logo uma pedra! Até que enfim, alguma coisa lhe aparecia na sopa. Enfim, alguma coisa. Aconteceram coisas. É certo que quase cuspiu um dente. Esteve quase para partir um dente. E afinal não partiu. Ficou a abanar, mas ficou lá. Chamaram o cozinheiro. Mostraram-lhe a pedra. Dias a fio o pobre cozinheiro andou mesmo desesperado. Ainda bem que nada de mal aconteceu. Rapidamente tudo foi esquecido. Esqueceram. Este caso também. E não se falou mais nisso. Endre Kukorelly