Não me ofereça o paraíso. Andar para cima e para baixo é o que quero. Esperar o dia parir o sol, sentir a minha pele tostar nas plagas dos sertões. Não me ofereça o infinito. Quero o seixo da estrada. Dar o passo e levantar poeira – me confundir na poeira. Quero todas as formas e amanhã ser informe. Sim, sei das topadas, dos calos, do estrume. Não me iludo. Mas sempre estarei pronto para me levantar. As cicatrizes contam histórias que gosto de escutar: me reconheço nelas, e choro e canto e fico feliz quando a lua estampa um sorriso na boca da noite: ali sou eu quem sorri. Olho para o céu e vejo um caminho de estrelas. E além e além e muito além de todas as coisas, sonho que sou o seixo, a estrela. E assim sou uniforme. José Inácio Vieira de Melo