Labirinto
Não me ofereça o paraíso.
Andar para cima e para baixo é o que quero.
Esperar o dia parir o sol,
sentir a minha pele tostar nas plagas dos sertões.
Não me ofereça o infinito.
Quero o seixo da estrada.
Dar o passo e levantar poeira – me confundir na poeira.
Quero todas as formas e amanhã ser informe.
Sim, sei das topadas, dos calos, do estrume. Não me iludo.
Mas sempre estarei pronto para me levantar.
As cicatrizes contam histórias que gosto de escutar:
me reconheço nelas, e choro e canto e fico feliz
quando a lua estampa um sorriso na boca da noite:
ali sou eu quem sorri.
Olho para o céu e vejo um caminho de estrelas.
E além e além e muito além de todas as coisas,
sonho que sou o seixo, a estrela.
E assim sou uniforme.
José Inácio Vieira de Melo
Publicado em 28 de Abril de 2008