(gentileza de Amélia Pais) Nunca senti por eles grande entusiasmo. Se eram excelentes eram também petulantes e de um trato tão espinhoso como o azevinho de que extraíam a tinta. E se nunca fui um deles também é certo que nunca me puderam negar o meu lugar. Na quietude do scriptorium crescia neles a todo o tempo uma pérola negra como o velho coágulo seco por dentro das penas. À margem de textos laudatórios arranhavam, esgadanhavam. Rosnavam se o dia estava escuro ou se giz a mais amolecera o vellum ou giz a menos o deixara oleoso. Sob os dorsos da caligrafia arrebanhavam rancores míopes. Sementes de ressentimento ponteavam-lhes as espirais de fetos das maiúsculas. De vez em quando eu tinha um sobressalto a milhas de distância, e via na minha ausência o cursivo inclinado de cada dorso, e sentia-os a aperfeiçoarem-se contra mim, página a página. Que se recordem deste contributo não desprezível para a sua arte de invejas. Seamus Heaney