Poema sobre uma imagem
Uns pássaros perfuram, pintalgados,
a sisudez de uma escultura olmeca
ou por ossuda mão são levantados
poeirentos cadáveres da seca.
Sua arte tudo toca, ceca e meca,
dando voz, hora e vez aos deserdados,
na agudeza do lápis que disseca
num prisma exato os sóis apunhalados.
Não são pincéis nem tintas, mas gnomos,
que imprimem a fogo e alma cada risco,
das cítricas visões expondo os gomos.
Cada gravura é vida, não se doma,
cada um dos traços um piau arisco.
E o retinto nanquim por axioma.
Virgílio Maia
Publicado em 7 de Abril de 2008