Sic transit gloria mundi
(...)
habitamos casas vegetais: nada perdura
além de um vento seco
e da morte periódica
não há uma pedra
que nos testemunhe, nem nós mesmos
testemunhamos: deixamos que nos vejam
e eles não se confrangem
há uma soleira para cada dívida:
não temos dúvidas nem certezas:
nem isso temos
esta é a porta por onde não passará:
foram feitas assim as tuas portas,
apenas símbolos
de uma coisa aberta
este é o teu gole quente
para dormir com sede
não terás a semente
e estará vazia
a tua rede
entre dois paus, ao céu aberto
armarás a espera e a esperança:
não te pertence o céu e nem a caça
te conhece: voltarás vazio
ao teu terreno de aluvião
no meio do mar que não existe
que pena não terem marcado em teu flanco
mesmo com fogo, um sinal de posse,
que te deixasse possuir o duradouro
das marcas de tua vida
dos sonhos de tua morte!
Álvaro Pacheco
Publicado em 28 de Maio de 2008