Como posso estar só, se estou sempre comigo? Minha ausência é a presença que tanto persigo. Quero estar só, sem mim, pra não ter um motivo pra tentar escapar do desgosto em que vivo. Tenho lágrimas metafísicas — eu sei que há muito que não choro, desde que gostei, há pouco, quando alguém me disse que não vem mais agora, e agora eu não quero mais ninguém. Queria a solidão mais rústica e absorta, como um coral num mar sem onda que o revolva — e eu, sem jeito, sem fim, consumindo a revolta... Revolta que é de mim, de estar preso a mim mesmo, como um coral num mar sem fim — e eu, sem desejo, sem revolta, sem nada que me traga apego. Luís Antonio Cajazeira Ramos