habitar o tempo
escutam-se nos seus cabelos as ondas
do mar como se os abismos trouxessem o eco
dos peixes beijando-se em camas de algas
e os pescadores fossem deuses a invadir búzios
reinos de silêncios quebrando o encanto
da água exposta na luz dos espelhos
com o sexo à flor da pele palpitando
por entre os olhos da natureza a chamar
sempre ao longe como se pudesse convencer
um corpo a ficar eternamente abraçado
a outro corpo no lugar onde é possível
construir a casa habitar o tempo e sorrir
aos pássaros que passam na rota do sol
sim é possível escutar as ondas batendo
na rocha macia dos seus cabelos soltos ao vento
José António Gonçalves
Publicado em 9 de Junho de 2008