Outrora era a cor do dizer
Outrora era a cor do dizer
Que encharcava em minha mesa o lado mais feio de uma colina
Com um campo emborcado onde se sentava uma escola silenciosa
E um retalho preto e branco de meninas que cresciam a brincar;
Devo desfazer essas suaves vertentes marinhas do dizer
Para que tudo o que graciosamente se afogou com o canto do galo subapara matar.
Quando eu assobiava com os malandros à beira da represa do parque,
Onde à noite apedrejávamos o frio e o cuco,
Para os amantes enroscados na imoralidade de seus leitos de folha,
A sombra de suas árvores emitia uma palavra de muitas formas
E um clarão de relâmpago para o pobre em meio às trevas.
Agora o dizer será meu desfazer,
E desenrolo cada pedra como um carretel.
Dylan Thomas, trad. Ivan Junqueira
Publicado em 21 de Junho de 2008