É pelo teu rosto em que as marés passam, pelos teus lábios em que voam gaivotas, pelos teus dedos em que a luz perpassa, pelos teus olhos que me traçam as rotas, que este barco encontra o caminho, que este dia descobre que não é tarde, que as palavras se bebem como vinho, e o fogo não queima quando arde. É no que me dizes quando a noite fala, no que perdura da manhã que se esquece, no que é dito em tudo o que se cala, e não precisa de ser dito quando amanhece. Pode ser o amor tantas vezes sentido, ou só aquilo que vive no coração, pode ser o que pensava ter esquecido, e regressa agora pela tua mão. Quantas vezes já foi primavera, e logo aí as flores morreram: até ao dia em que nada ficou como era, e todas as folhas mortas reverdeceram. Nuno Júdice