Nas cartas que se escrevem e não chegam ao destino, o que ficou dito tem o eco do que nunca será esquecido: a voz que se ouviu numa paragem do tempo, e atravessa o centro da memória numa inquieta procissão de sombras. Pudessem os arcos do horizonte abrir-se como um lamento de pombas; ou este sonho fechar-se com o correr da cortina de um último acto: nunca os dedos amados irão soletrar a frase do crepúsculo, soltando da sua música um enxame de sílabas. E o azul enche a garrafa do céu para que as aves se embriaguem no púlpito do infinito, arrastando no seu voo uma cinza de imagens. Nuno Júdice