(gentileza de Amélia Pais) Prefiro o cinema. Prefiro os gatos. Prefiro os carvalhos nas margens do Warta. Prefiro Dickens a Dostoievski. Prefiro-me a gostar das pessoas em vez de amar a humanidade. Prefiro para uma emergência ter agulha e linhas. Prefiro a cor verde. Prefiro não afirmar que a razão é a culpada de tudo. Prefiro as excepções. Prefiro sair mais cedo. Prefiro falar de outras coisas com os médicos. Prefiro as velhas ilustrações listradas. Prefiro o ridículo de escrever poemas ao ridículo de não os escrever. Prefiro no amor os pequenos aniversários para festejar todos os dias. Prefiro os moralistas que nada me prometem. Prefiro uma bondade algo prudente a outra confiante em demasia. Prefiro a terra à civil. Prefiro os países conquistados aos conquistadores. Prefiro guardar as minhas reservas. Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem. Prefiro as fábulas de Grimm às primeiras páginas dos jornais. Prefiro folhas sem flores às flores sem folhas. Prefiro os cães sem a cauda cortada. Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros. Prefiro gavetas. Prefiro muitas coisas que não menciono aqui a outras também aqui não mencionadas. Prefiro os zeros soltos aos dispostos em bicha para o número. Prefiro o tempo de insectos ao de estrelas. Prefiro fazer figas. Prefiro não perguntar se ainda demora e quando é. Prefiro tomar em consideração a própria possibilidade de ter a existência o seu sentido. Wislawa Szymborska