Tal como o que importa num poema é, como escreveu Horácio, usar uma palavra conhecida como se fosse nova, limpando-a do bafio do uso, também no amor o que importa é olhar o rosto que se conhece como se nunca o tivéssemos visto, descobrindo de cada vez a surpresa de um encontro em que a beleza nasce de uma súbita sombra no modo como o olhar se desvia, ou dessa luz que um entreabrir de lábios derrama pelo mundo. Posso dizer: «Amo-te»; e é como se nunca o tivesse dito antes; ou ainda: «As tuas mãos!»; e o objecto que designo transforma-se no verbo que faz avançar a vida, para além da gramática e dos significados. Nuno Júdice