Não tenho casa para onde voltar nem esperança onde me abasteça por isso caminho. As casas entram em derrocada quando passo a terra é uma serapilheira de escombros. Detenho-me a admirar as pás mecânicas os movimentos das escavadoras eriçam-me de desejo. De noite as contemplo: os perfis imóveis das pás descansando sobre o céu azul cobalto ao lado da lua de luz nacarada são ainda mais belos que os braços dos homens que as manipulam e as escavadoras com as suas enormes bocas abertas e cheias ainda de terra e escombros parecem enormes animais mortos. Os meus pais ensinaram-me a nunca ter nada. Ensinaram-me a nunca voltar para casa a nunca dizer esta casa é minha aqui moro eu neste lugar que amo. Fecho a porta e não preciso de olhar para trás para saber que a casa já não existe. Em nenhum lado sem falar com ninguém moro mas se nos encontrarmos posso ensinar-te a caminhar sorridente sobre a desolação. Miriam Reyes