Num reino de bruma, entre os ramos de árvores quase secas e breves trilhos, o ar libertava uma vaga espuma, e a luz soltava líquidos brilhos. Numa clareira, sombras de saudade caíam sobre arbustos rasos, e um canto de campo enchia de sede os vasos que o tempo partiu num dobrar da idade. Colhi antigas papoilas, e colei-as no álbum do horizonte, com o cuspo do poente, enquanto uma voz distante rezava o fim de uma oração doente. E na água parada da lagoa, com os braços soltos como remos sem uso, uma parca branca vogava, à toa, tecendo o destino na linha do seu fuso. Nuno Júdice