(gentileza de Amélia Pais) Senhor, o amor é uma coisa que mete medo não sabeis pois que se trata de um trabalho difícil exige uma coragem e uma fé além do improvável uma humanidade indizível uma fraternidade cega dinheiro e garrafas crianças ao acaso olhares nem sequer fulminantes e charcos de céu e festas campestres quando o tempo permite o amor quer idas à pesca, patins e chocolate negro o amor quer a curva suave e a facilidade é tão difícil, Senhor não poderia descrevê-lo em toda a sua volúpia para lá dos seus mártires e dos seus desastres hipócritas o amor é pleno de alegria e segue o seu caminho na névoa dos primeiros passos na roupa pendurada no inverno na corda tensa vai para onde calha e muito lentamente lentamente demais o amor segue como um ouriço do mar oco cheio de areia como um botão que se deixa por coser é miserável é uma pluma move-se ao vento quando o coração bate é esplêndido lavado pela maré mesmo na maré odiosa é onda e é belo é onda e é belo e cheio de algas é o silêncio é a luz uma coisa assim vulgar Hélène Monette, tradução de Rosa Alice Branco