Estas são as mulheres, levando nas mãos os castiçais de fogo da sua manhã, subindo uma escada de silêncio para dentro das casas de onde vieram, empurrando as portas dos rios mais fundos para entrarem nos palácios do abismo, e os iluminarem com as lâmpadas nuas dos seus corpos. Ouço as suas vozes crescerem no interior dos montes, num fulgor amarelo de flores vagarosas como as mãos que nascem dos seus braços. Estas mulheres são imensas como as nuvens que atravessam a paisagem, e escrevem na página do céu o nome dos deuses que as amaram, transformando-as em árvores, em astros, em animais incalculáveis num prado breve como a sua eternidade. Dizem-me que as suas vozes são roucas, que os seus cabelos cobrem os arvoredos do horizonte, que os seus dedos contam os amantes na exaustão da madrugada. E empurro-as para o corredor da memória, para que se percam numa vociferação de sombras, como se não soubessem o caminho do átrio onde as espero, e não viessem tapadas por um manto de orvalho, gota a gota escorrendo dos seus lábios. Nuno Júdice