Quando ele voltou a moça do portão estava casada o prefeito era uma cruz e uma placa as aves mudaram de itinerário como os ônibus o irmão mais moço tomava ópio para esquecer. Quando ele voltou o empregado da esquina respondera a um processo onde perdeu a esperança e os dedos o pai fuzilara um estudante a mãe fugira com um mascate. Quando ele partiu a primavera galopava nos rosais os campos de begônia floresciam o gado esturrava nos currais a terra desafiada vicejava como uma égua na véspera do galope. Quando ele partiu o alimento dos olhos era verdura de paisagem além da cerca as goiabas enchiam os cestos as mulheres voltavam com os meninos os velhos falavam de assombração a lua espreitava o pátio e o quintal. Quando ele voltou o ministro citava o arquiteto com a pretensão de restaurar o tempo à revelia dos relógios o muro substituía o horizonte autoridades sonolentas distribuíam o passaporte dos homens para o sanatório. Quando ele voltou as leis se haviam tornado ainda mais fósseis as oligarquias muito mais poderosas os poderosos mais astutos o ministro lembrava ? a pá sob os escombros? o menino relia as manchetes da guerra os preconceitos rimavam com a economia. Quando ele voltou Havia uma encruzilhada e um alto falante a moça do portão estava casada o irmão caçula era um soldado velho. Quando ele partiu a primavera galopava nos rosais. Quando ele voltou o céu era só um galope amarelo. Florisvaldo Mattos