Se eu voltasse a nascer, e as minhas mãos me ensinassem o caminho que vai do coração ao mundo, e os meus olhos me abrissem o círculo que o mar desenha no horizonte, e o meu nariz respirasse a luz que a manhã solta de dentro da névoa, e os meus lábios pedissem o pão de estrelas que as aves trocam entre si, e os meus passos me conduzissem para onde ninguém precisa de voltar, o tecido da minha vida seria transparente como o vidro da janela que não abro, o fio que vou puxando seria eterno como os números que contam os dias de um deus, a tesoura da noite ficaria na caixa que não precisei de abrir. Se eu voltasse a nascer, e as velas do sonho me envolvessem com o linho do seu vento. Nuno Júdice