Ponho a sopa a aquecer num tacho pequeno. sentado perto do fogão, pouso os braços na mesa vazia. Encosto ligeiramente a cabeça na parede enquanto ouço o som da sopa ao lume. Passados uns minutos, uma pequena sombra percorre tranquilamente a parede, mergulhando na penumbra o relógio, uma factura da E.D.P., o calendário, a fotografia de família... A ligeira corrente de ar que passa perto de mim leva o meu ouvido na direcção do pequeno rádio portátil, que toca baixinho, e deixa-me o outro ouvido sobre o fogão. Fico à escuta. Dentro de mim vou remisturando uma música que desenha no meu espírito imagens, algumas delas são bem fáceis de visualizar mas outras são tão simples que se perdem, deixando-me abandonado no ar, rodeado de uma luz ligeira e suave. João Miguel Queirós