Essa mulher cercou-me com as duas mãos. Vou entrando no seu tempo com essa cor de sangue, acendo-lhe as falangetas, faço um ruído tombado na harmonia das vísceras. Seu rosto indica que vou brilhar perpetuamente. Sou eterno, amado, análogo. Destruo as coisas. Toda a água descendo é fria, fria. Os veios que escorrem são a imensa lembrança. Os velozes sóis que se quebram entre os dedos, as pedras caídas sobre as partes mais trêmulas da carne, tudo o que é úmido, e quente, e fecundo, e terrivelmente belo - não é nada que se diga com um nome. Sou eu, uma ardente confusão de estrela e musgo. E eu, que levo uma cegueira completa e perfeita, acendo lírio a lírio todo o sangue interior, e a vida que se toca de uma escoada recordação. Herberto Helder