Esta é a luz do espírito, fria e planetária. As árvores do espírito são negras. A luz é azul. As ervas descarregam o seu pesar a meus pés como se eu fosse Deus, picando-me os tornozelos e sussurrando a sua humildade. Destiladas e fumegantes neblinas povoam este lugar que uma fila de lápides separa da minha casa. Só não vejo para onde ir. A lua não é uma saída. É um rosto de pleno direito, branco como o nó dos nossos dedos e terrivelmente perturbado. Arrasta o mar atrás de si como um negro crime; está mudo com os lábios em O devido a um total desespero. Vivo aqui. Por duas vezes, ao domingo, os sinos perturbam o céu: oito línguas enormes confirmando a Ressurreição. Por fim, fazem soar os seus nomes solenemente. O teixo aponta para o alto. Tem uma forma gótica. Os olhos seguem-no e encontram a lua. A lua é minha mãe. Não é tão doce como Maria. As suas vestes azuis soltam pequenos morcegos e mochos. Como gostaria de acreditar na ternura... O rosto da efígie, suavizado pelas velas, é, em particular, para mim que desvia os olhos ternos. Caí de muito longe. As nuvens florescem, azuis e místicas sobre o rosto das estrelas. No interior da igreja, os santos serão todos azuis, pairando com os seus pés frágeis sobre os bancos frios, as mãos e os rostos rígidos de santidade. A lua nada disto vê. É calva e selvagem. E a mensagem do teixo é negra: negra e silenciosa. Sylvia Plath, tradução de Maria de Lourdes Guimarães