I Estou sujeito ao tempo sou este momento perguntam-me quem fui e permaneço mudo o tempo poisa-me nos ombros em relento partiu no vento essa mulher e perdi tudo Já não virá ninguém por muito que vier em vão esperei a rosa da minha roseira quando um pássaro sai dos olhos da mulher é porque ela é de longe e não da nossa beira Resta-me um sonho desconexo e desconforme Na haste da camélia que o vento quebrou jamais a vida branca como ela dorme Eu era essa camélia e nunca mais o sou A minha vida é hoje um sítio de silêncio a própria dor se estreme é dor emudecida que não me traga cá notícias nenhum núncio porque o silêncio é o sinónimo da vida O mundo para além dessa mulher sobrava tudo vida vulgar tumultuária e cega o brilho do olhar equilibrava a chuva nas suas costas hoje toda a luz se apaga Mulher que um golpe de ar me pôde arrebatar. enfim não existia ou só ela existia Asas que ela tivesse deixou-as queimar e tê-la-á levado estranha ventania Daqueles traços fisionómicos de pedra não quero já ouvir a voz que às vezes vem na calma destacada por um cão que ladra Não há ninguém perto de mim sinto-me bem Cada casa que roço é escura como um poço se sou alguma coisa sou-o sem saber sossego solitário sem mistério isso talvez tivesse sido o que sempre quis ser Ruy Belo