De noite no céu faz sol. Tudo palpita animado de vida. De noite o mundo duplo do além é como o centro da terra. Movem-se as galáxias brancas como se estivéssemos em pleno dia. O céu é o interior da terra. Palpitam aí os abismos incriados destes fogos. Penso nas galactites, pedaços que estalaram do céu. O céu é uma via de luz. Vêem-se correr as espessas resinas do dia. larvas de pus. Fogos galácticos como estradas dum sono branco. Acordam, mas não se levantam. Andrómeda com a sua cinza enxuta fermenta através do escuro uma brancura diurna. Resina expansiva. Andrómeda tem os braços cheios de leite. Estátua compacta enquanto em seu redor o céu está repleto de prata. A noite, lugar galactífero, pedra de leite que recorda na terra o sol. As galáxias são a matéria mesma da memória. António Cândido Franco