Agora que morri de um amor incurável já não consigo lembrar o que doeu. Olho o meu corpo estendido sobre a ama e dou comigo a descrever a sua geografia com o rigor invejável de um compêndio ? mas como alguém que apenas conhecesse o mundo pelos mapas. A morte separa-nos da dor e da sua memória ? se dobrares neste instante o ângulo do corredor que conduz ao meu quarto, decerto saberei o teu nome e os nomes das flores que me trouxeres ? mas já terei esquecido o desencanto de não as ter recebido noutro tempo, quando morrer de amor não tinha ainda perdido o efémero estatuto de metáfora. Maria do Rosário Pedreira