Da afinidade
Somos parecidos com o que quisemos ser,
Mantemos a afinidade com a imaginação.
Só por sinceridade extrema não exageramos o preço da dor.
Dormimos pesadamente porque nos dão abrigo
E é no meio da podridão que reproduzimos a tristeza.
Cada passo resiste ao tempo que nos é dado,
Mas há outros melhores que nós
Que traficam a bondade do mesmo modo
Com que o medo coroa intenções sérias de sustento
Nos locais propícios à simulação.
As poucas palavras que dizemos
São ainda construções de resistência,
Actos solenes para a conquista de um pouco da fé
Que traz a libertação do tempo imposto
Com o qual nos recompensam pelo cansaço.
É por não buscarmos o que nos salva ou
Por não sabermos beber da secura dos lábios
Que nos transportamos para fora dos campos
Sujeitos à pequenez e à aparência de abundância
Como seres que perderam a consciência do riso.
Rui Almeida
Publicado em 12 de Novembro de 2008