Somos parecidos com o que quisemos ser, Mantemos a afinidade com a imaginação. Só por sinceridade extrema não exageramos o preço da dor. Dormimos pesadamente porque nos dão abrigo E é no meio da podridão que reproduzimos a tristeza. Cada passo resiste ao tempo que nos é dado, Mas há outros melhores que nós Que traficam a bondade do mesmo modo Com que o medo coroa intenções sérias de sustento Nos locais propícios à simulação. As poucas palavras que dizemos São ainda construções de resistência, Actos solenes para a conquista de um pouco da fé Que traz a libertação do tempo imposto Com o qual nos recompensam pelo cansaço. É por não buscarmos o que nos salva ou Por não sabermos beber da secura dos lábios Que nos transportamos para fora dos campos Sujeitos à pequenez e à aparência de abundância Como seres que perderam a consciência do riso. Rui Almeida