cessam em ferida as nossas bocas as nossas bocas evaporadas luzem arrastando os despojos do amor descarnado na névoa do tule da tarde teu corpo como um deserto treme pensativo agreste profanação de sombras seculares onde desabrido geme inútil o meu corpo ignorado cujos olhos sepultam flores silvestres no vasto caminho da alma dos outros... o vento sublime pelas nossas bocas evaporadas vai subindo graciosa carícia de água que adormece o consolo somos felizes somos loucos! onde ondeia a força que nos separa? no compasso astral! canto agora ensandecido a tua boca regato do meu ser bem firme sopro húmido da aurora é deus o novo outrora que perfuma a lama da eternidade ilusão da maré destas bocas revoltadas exaustas que arrebatam o pecado nunca amaram as bocas geladas que se afastam evaporadas no ocaso primaveril da luz do teu peito redondo onde antes entrara escuro o último raio de sol quando mortas repetirem este gesto as nossas bocas na lonjura intemporal gigante encostadas às rochas da fome terna onde aprendemos a sentir a extensão diluída do que fomos os lábios que te peço lembram o arder do fogo que curioso adormece na vigília da noite com a amarga ânsia roubada aos beijos inextinguíveis das bocas de néctar evaporadas Henrique Levy