Neste outono, as pedras agasalham-se no cobertor do musgo; e o barro bebe a água; e o vento viaja rente aos muros. Mas eu, sem ti, deito-me gelada sobre a cama e digo palavras que queimam a boca por dentro ? amor, saudade, o teu nome e os nomes das coisas que tocaste (e sobre as quais deixo crescer o pó, para que os dias não se decalquem sempre de outros dias). Fecho os olhos depois sobre a almofada e vejo o rosto branco da casa desenhar-se à medida da tua ausência: as janelas abrem-se para a solidão dos becos e há um farrapo de luz sobre a porta a que ninguém virá bater. pergunto-me onde anda a tua sombra quando aqui não estás. E tenho medo. São estes os solavancos de uma ida pequena ? bordar uma toalha para logo a manchar de vinho, sentir a ferida na distância do punhal, viver à espera de uma dor que há-de chegar. Maria do Rosário Pedreira