Sob o silêncio outro silêncio arde
Bem-aventurado seja o inferno que há na terra
e o trabalho nos campos cada dia,
e o gado nos redis que nos aguarda,
e as aves que chegam dos confins
dos desconhecidos lugares que manteremos
na frágil proximidade dos segredos. A inocência
inútil seja bem-aventurada
quando além do caminho só existe
um outro abismo, e água, e nada mais.
Bem-aventurada seja a treva infinda,
este travo na língua a desespero,
este rastro de fumo que nos chega
dos confins do deserto e seus oásis.
Glorificada seja essa cabeça
que insidiosamente foi degolada
e o poder do Pai não protegeu
da essência da infâmia e do esquecimento.
Sob o silêncio outro silêncio arde.
Glorificado seja o que comigo chora.
Amadeu Baptista
Publicado em 7 de Novembro de 2008