Bem-aventurado seja o inferno que há na terra e o trabalho nos campos cada dia, e o gado nos redis que nos aguarda, e as aves que chegam dos confins dos desconhecidos lugares que manteremos na frágil proximidade dos segredos. A inocência inútil seja bem-aventurada quando além do caminho só existe um outro abismo, e água, e nada mais. Bem-aventurada seja a treva infinda, este travo na língua a desespero, este rastro de fumo que nos chega dos confins do deserto e seus oásis. Glorificada seja essa cabeça que insidiosamente foi degolada e o poder do Pai não protegeu da essência da infâmia e do esquecimento. Sob o silêncio outro silêncio arde. Glorificado seja o que comigo chora. Amadeu Baptista