Canção divina as cousas comovia, E de ternura as árvores choravam... E lembrava o luar a luz do dia E os ribeiros, extáticos, paravam. Era Orfeu, de inspirado, que descia Às entranhas da terra! E se afundavam Os seus olhos na noite, muda e fria, Onde as pálidas sombras vagueavam. Eurídice, o seu morto e triste amor, Ouvindo-o, tomou forma e viva cor, Íntima luz à face lhe subiu... Mas Orfeu, pobre amante enlouquecido, Quis ver aquele corpo estremecido... E, outra vez sombra, Eurídice fugiu... Teixeira de Pascoaes