De correr mundo as terras e os humanos como paisagem que ante os olhos passa, e às vezes percorrer umas e outros nos breves intervalos entre duas viagens, uma incerteza deixa que é diversa da que se aprende no convívio longo: quem se demora vê, sob as fachadas ou as perspectivas de alta torre feitas um gesto em que se mostra uma outra vida, ou troca frases que desnudam crua o que de interno ser sob as fachadas vive; mas quem só passa e mal aos outros toca com mais que olhares ou fugidias vozes, mais adivinha o que não é paisagem mas dia a dia tão diverso dela ou pelo menos para além ansioso. Mas, se num caso a vida se conhece e noutro caso nos conhece a nós, por ambos aprendemos que do mundo se vive o que não passa, ou se não vive o que passando é só terras e gentes - -o conhecer, porém, não se conhece nunca. Apenas resta a escolha: como descobrir essa experiência inútil. Antes, pois, correr do mundo as terras e os humanos que consumir-se alguém ao lado deles sempre. Jorge de Sena