Estou aqui desprovido de amigos conhecidos e companheiros o vulto acompanha meus passos sombra de outros tempos em minha terra acompanho o silêncio com que me levam ao encontro a pedra a serpente a sereia apenas a realidade entrevista o bastante para o pranto o peregrino aprisionado pássaro em areias charcos florestas a prisão se fecha em si mesma dos meus pecados o estranho personagem aproximado aos poucos na cautela dos passos lentos reconheço a face entendo a linguagem sei que o pior passou agora é a hora da chegada irreconhecível ser de outras eras não tinha razões para voltar ao ninho nem pedir que o regresso seja recebido em festas o irmão que me acolhe sabe das bolhas em meus pés e dos piolhos entre os cabelos ralos mal enxergo o futuro em privações passadas malgrado o fato de estar de volta me revolto por ter voltado meu gesto o desespero e a raiva a sujeira retornada o passado esquecido reaquecido em frágil pessoa assomada à porta esqueço o tormento no único instante em que penso enxergar o corpo outro é o corpo na entrada de quem foi embora em tempos piores a serpente sibila segredos e a pedra amassa sua cabeça não mentira suas verdades a pele retirada na oferenda aos deuses quero mais que o regresso o retorno ao tempo passado o espaço e o tempo recuperados no soluço reconheço a perda as perdas detalhadas e o peregrino se liberta em choros e provações diversas nenhum paraíso permite o reencontro entre os que partiram na bruma e na chuva retornam a lama dificulta o caminho e marca os pés indefinidamente o estranho retorna ante os olhos atônitos dos que ficaram. Pedro Du Bois