A lira de Hölderlin
(gentileza de Amélia Pais)
De que me serve ter vivido como um deus
se foi só uma vez. De que me serve
saber que em certo momento alcancei algo inominável. Agora regresso
por ruas gastas por milhões de passos,
por sujas multidões através dos séculos.
Sou mais um. Irei percorrer essas ruas
da mesma maneira; como eles
irei amar uma mulher, e também à minha frente
florescerão as buganvílias quando
chegue abril. Acontecerá uma série de coisas,
e nada mais. Escreverei uns versos
que não terão luz, porque a luz foi tua
somente um instante.
Tudo será névoa,
desaparecerá
como um amanhecer sobre as ondas
na lembrança de um velho.
Irá perder-se a luz. Irás perder-te.
E serás infeliz, e não saberás a razão.
Alejandro Martín, trad. Manuel A. Domingos
Publicado em 4 de Fevereiro de 2009